O outro e eu

Quando eu erro no trânsito, foi um equívoco, que acontece com qualquer um. Quando é o outro, trata-se de um barbeiro que merece ser xingado.
Quando eu não mudo de ideia, eu tenho opinião firme. Quando o outro não muda, ele não tem a cabeça aberta.
Quando eu disciplino meus filhos, é porque quero o melhor para eles. Quando é o outro, está sendo muito duro com as crianças.
Quando eu compro coisas, é porque preciso, e estou pagando com meu dinheiro. Quando são os outros, é porque são capitalistas que não resistem ao consumismo.
Quando sou agressivo, é porque tenho opinião forte e falo o que penso. Quando é o outro, não passa de um cavalo estúpido.
Quando eu jogo lixo onde não devo, talvez é porque não tinha outra alternativa. Quando é outro, publico foto do porco no Facebook.
Quando sou violento defendendo minha causa, é porque ela é nobre. Quando são outros, não passam de animais.
Quando morre um político de meu pais, “é um ladrão a menos”. Quando é de outro pais, não raramente e saudado como um grande líder.

Esta é uma tendência muito humana, muito nossa: justificar nossas intenções e julgar as dos outros. Confirmar nossas atitudes e questionar as dos outros. A incoerência, querendo ou não, é quase que parte da essência do ser humano. Só que não tem jeito. Quando o outro transgride princípios, ele transgrediu princípios; quando sou eu, também.

Mas este é um item “quase que parte da essência” porque, originalmente na era assim. Deus nos criou perfeitos, nós que nos afastamos. A primeira incoerência gerou todas as outras. Felizmente, veio dele o conserto, a aproximação, o amor coerente do inicio ao fim. Jesus Cristo nos conhece muito bem, e, mesmo assim, nos ama. Aproxima. Perdoa. E instrui, por Sua Palavra, indicando princípios que são aplicáveis em todas as situações, seja para nós, ou para os outros.

São estes princípios a segurança e orientação quando queremos definir, criticar, julgar ou ajudar. Pois estes princípios não mudam, não quebram, não são levados pelo fogo ou enchente, não fogem com outra pessoa, não são incoerentes, não se acabam. São sempre os mesmos. E sempre serão.

Assim, quando eu sou olhado por Deus, pela fé, sou visto como filho, cuidado e amado por Ele.

E quando é o outro, também.



P. Lucas André

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Nos trilhos

O Carpinteiro e os jardineiros