Salivar
Acredito que você esteja familiarizado com o chavão “Eu não me
arrependo de nada do que eu fiz”. Segundo esta lógica, nossos erros não
precisam de arrependimento, já que cada um deles “foi um aprendizado”,
“contribuiu para ser quem sou hoje”, etc, etc...
Agora, surge uma nova variante, que parece ser mais amena.
“"Não posso me arrepender de uma atitude que foi feita impensadamente. Foi
a reação de um ser humano normal”, disse um ator brasileiro, procurando
justificar um ato cometido. O ato de cuspir no rosto de um homem e uma
mulher.
A frase parece sugerir que arrependimento serve somente para
aquilo em que pensamos antes de fazer. Os atos impensados estariam livres desta
necessidade.
Talvez exista algum lugar onde esta lógica se encaixe, mas certamente
não é na Teologia. Nela, erro é erro, e precisa de arrependimento e perdão.
Especialmente o impensado, já que, quando planejamos agir maldosamente,
não estamos pensando em arrependimento. Ao menos não naquele ponto, caso
contrário, não planejaríamos. Para quem acredita ser uma pessoa de fé e que
procura fazer o bem, os erros mais frequentes tendem a ser os impulsivos.
Errar já é feio em si, mas eximir-se da necessidade de
arrependimento acaba sendo pior. Seja para um ator ou qualquer outro
profissional. Ou melhor, todo e qualquer ser humano. Nós não só cometemos erros
impensados como também erros propositais. E todos eles precisam de perdão e
recomeço. Diários.
Na trajetória de Jesus Cristo, cuspes também estiveram em cena. Um
dos episódios está ligado à cura de um cego, permitindo que ele pudesse voltar
a ver. A cusparada foi no chão. A cura foi no rosto.
Em, outro, os torturadores do Salvador lhe cuspiam no rosto, com
acinte, afronta e humilhação. Nada ali foi encenado, tudo foi de verdade. As
cusparadas foram no rosto. A cura, no coração.
E esta cura foi muito bem pensada e executada. Ela muda a
vida daqueles que, tendo ouvido que precisam, sim, de arrependimento e perdão
sempre, em todas as situações, salivam pelo Evangelho que, pela fé, perdoa,
cura, anima a viver. E procuram respeitar o diferente por saber que ele também
é um igual.
Do contrário, tudo pode se tornar mera arrogância, aparência ou
cegueira.
Tudo da boca pra fora.
P. Lucas André Albrecht
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