Mordidas
O atacante de uma seleção nacional dá uma mordida num adversário, em rede mundial. Algo que não é tolerado nem no jardim de infância. Então, a apresentadora de um programa de TV noturno comenta: "Seria uma pena ele ser punido, a Copa perderia um craque". Mais adiante, diz que concorda com o jogador, quando, em entrevista pós-jogo, desculpou-se. "Na cancha,vale tudo."
Vamos ao replay: um jogador de futebol comete um ato não apenas ridículo e estúpido para um profissional, como também desleal e passível de severa punição. No entanto, ‘seria uma pena’ se a punição justa acontecesse, porque ele, supostamente, é um bom profissional no que faz.
E se ele tivesse jogando lixo na rua, sido não tão ‘queridinho’ com animais, furado fila, não devolvido troco, estacionado em local proibido ou vaga para deficientes, feito fila dupla, sonegado imposto para sobreviver, e outras tantas mordidas que vemos (ou até praticamos nós mesmos)... Aí, seria uma pena puni-lo também? Pois quando acontece conosco, os comuns, não se pergunta ou verifica se somos craques em nossa profissão. O ato é chamado pelo nome. Mais. Acabamos sendo culpados pela corrupção da toda classe política. Ainda, punição é exigida - se os moralmente superiores não o fizerem eles mesmos com os próprios dedos, linchando moralmente nossa reputação onde for possível, especialmente, na web.
Coam-se mosquitos e se engolem camelos. As mordidas legais e as intoleráveis são selecionadas e separadas, validando uma moral torta, seletiva, corrupta. Pior se ajudar ainda a validar uma postura na qual alguns poucos iluminados decidem quais são as falhas aceitáveis, ou quais os lugares aceitáveis para serem cometidas, e quais as passiveis de prisão perpétua na cela da condenação popular.
Vamos contribuir bem mais com nosso ambiente de vida quando chamamos as coisas pelo nome. Existem contexto, situações, momentos? Sem dúvida. Mas até que ponto eles podem mudar certo e errado?
Tudo isso passa por uma mudança, esta sim, que precisa ser continua, no coração. É dele que procedem os maus desejos e ações condenáveis. Mas também é dele que, pela fé, procedem os princípios e orientações indicando a linha clara entre certo e errado. E o caminho que conduz à Vida.
É importante não perdermos de vista esta direção. Ou então vamos ficar sempre sem entender por quê cultura e moralidade vivem na zona de rebaixamento.
P. Lucas André Albrecht
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