Tolerância
Aquele
quadro até que era divertido. O rapaz, indignado com perguntas que considerava
ruins ou estúpidas, respondia de maneira grotesca. Então, assinava com o
bordão. “Tolerância zero”.
O
que era para ser só um quadro de humor esta virando também um quadro de terror.
A “tolerância zero” começa a avançar passos largos sociedade adentro. Mas isto
não seria algo bom? Seria, se houvesse uma maneira de estabelecer para esta
sociedade tudo o que é certo, incontestável e inquestionável e o que não é. Só
que, na vida em sociedade, não é assim. Ao menos não em uma que pretenda ser
democrática. Ao contrário, pluralidade, diversidade de visões, espaço para o
contraditório estão em sua essência.. E, principalmente, o respeito para com a
liberdade de expressão.
Só
que as coisas estão complicando. Cada vez mais forte aparece a tendência de que
os diversos grupos, estabelecendo para si qual é a pauta, opinião e
verbalização toleráveis, comecem a praticar a tolerância zero – outro nome para
intolerância – com as opiniões contrárias. Ironias, agressões, xingamentos. A
internet, especialmente, tornou-se o palco onde muitos atores não têm mais fala
consistente. Limitam-se à mediocridade de, ao menor sinal de opinião contrária,
utilizarem o único dialogo que conhecem: frases agressivas e adjetivos cada vez
mais pesados.
Tolerância
é o contrário. É justamente ouvir ou outro e deixá-lo falar, mesmo que seja
algo radicalmente oposto ao que penso (e desde que não se cometa algum tipo de
crime). Infelizmente, no entanto, tem sido apenas sinônimo de “enquanto você
falar algo com que eu concorde, mantenho-me civilizado.”
Os
cristãos sabem disso. E precisam sempre relembrar. Para os cristãos, a Palavra
de Deus estabelece, sim, o que é certo e inquestionável. A Verdade. E não
apenas no papel, mas encarnada – Jesus Cristo. Esta é a verdade anunciada,
testemunhada e compartilhada incansavelmente de domingo a domingo praticamente
em qualquer canto do mundo. No entanto, não podem entrar neste mesmo ritmo de
tolerância intolerante. Nosso papel é ouvir, amar o próximo. E lembrarmos
que, se houver a contraposição e até a intolerância, isto não é motivo de
raiva, mas de alegria! *
Por
isso, tolerância, mais tolerância e outra dose de tolerância precisam partir,
sim, dos cristãos, se não for partir de mais ninguém. Nós não somos a fé que se
omite para não ofender. Mas também não a que reage com violência quando ‘nos
sentimos ofendidos’.. A fé cristã é a líder da tolerância, uma vez que provém
do Tolerante, Aquele que nos amou quando ainda éramos intolerantes para com
Ele. E não, isso não tem nada a ver com abrir mão da verdade. Ao contrario, a
melhor forma de amar o nosso próximo é falando a ele a verdade. Podemos, assim,
dar o exemplo para a nossa sociedade de uma prática de verdadeiro respeito,
tolerância e amor
Por
fim, vale a pena lembrar: Em Cristo, Deus ama mais o que mata ou o que morre? O
que vai a Igreja todo domingo ou o que está longe dele? Deus ama mais o pastor
ou o traficante? O que erra em público ou em segredo? O Pai ama mais o filho
que ficou em casa ou o que saiu pelo mundo?
Já
sabemos esta reposta. E podemos compartilhá-la com o próximo com alegria. Com
fé.
Com
tolerância mil.
*Mateus 5.11,12
Rev.
Lucas André Albrecht
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