Esquecidos

Esquecemos onde deixamos a chave do carro, o controle remoto da televisão. Não lembramos onde estão os óculos, as ferramentas, o celular, a roupa que precisamos para uma ocasião. Sempre que esquecemos alguma coisa, o que mais queremos é lembrar de onde a deixamos. Recuperar o que precisa estar à mão.

Somos pessoas que esquecem. E tentamos nos lembrar.

Se somos esquecidos para algumas coisas, por outro lado existem coisas que, ao invés de esquecer, insistirmos em lembrar. Deveríamos deixar num canto qualquer, mas não conseguimos deixar de recordar. São mágoas remoídas, são frases sem perdão. São lembranças doloridas, são recordações de dor e ilusão. Vontades de violência, impertinência, agressão. Às vezes, quando parecem quase escorregar para o fundo do baú, ressurgem renovadas, deixando muito mal nosso coração.

Somos pessoas que lembram, mesmo querendo ou devendo esquecer.

Este é o tipo de coisa que Deus sempre esquece. Para ele, perdoar, significa nunca mais lembrar. Quando há arrependimento e fé, não há mais memória, arquivo ou pasta guardada. Não há a espera pelo momento de fazer tudo voltar em nossa face, nos fazendo desanimar. Ele é muito esquecido para estas coisas; só lembra de oferecer graça e novo começo. E também a força para o que, sabemos, não é nada fácil praticar. Nós, humanos, frágeis, sabemos que esquecer o que machuca e perdoar o que causa dor é, muitas vezes, difícil de conseguirmos alcançar. É em Jesus Cristo, então, que precisamos ainda mais permanecer. Confiar, crer, sem desistir.

Tentar ter a memória fraca quando se trata de manter leve o coração.



(Ilustração inspirada em um texto


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