Seu Carlos

O seu Carlos esteve hoje aqui, novamente. Conheci este senhor de 60 anos de idade em 2004.

Seu Carlos já teve dinheiro, hoje quase não tem o que comer. Já morou em uma casa, ultimamente quase só viveu em albergues. Já caminhou direito, hoje se apoia em muletas, sequelas de um atropelamento há 9 anos. Na boca tem não uma janela, mas um portal nos dentes da frente. Está com dificuldades de visão; luta pra ter comida pelo menos hoje.

Talvez você o imaginou como um trapo de gente. Engano. O brilho nos olhos e o sorriso misturado com esperança surpreendem.

Ele veio sozinho até aqui; vai pra onde precisa. Está lutando por sua pensão do INSS. Quer fazer lentes novas para poder voltar a trabalhar em cartografia, que é sua formação. Está morando num quarto bem ajeitado. Já foi ajudado por muitas pessoas. Está frequentando a igreja, vive com fé. "Estou resolvendo meus problemas, um a um", comentou, confiante. Confesso, o Seu Carlos me impactou. Encorajou. Reforçou a certeza de que coitadinho e vítima até eu possos ser, se quser. Pra ser lutador e vencedor, não tem idade, condição ou muleta que feche o caminho.

Mesmo que você não se chame Carlos, você tem o mesmo Deus dele. Você tem as mesmas condições, ou talvez ainda maiores, de viver com fé e força na vida. Disponíveis em Deus. Assim como apoio, alegria, ânimo e descanso.

O Seu Carlos foi embora com o mesmo sorriso que chegou. Caminhando devagar, apoioado, mas sempre caminhando. Me deixou também o tema para o texto de hoje. Mais. Deixou um sinal de que a ação de Deus não é só invisível. Dá também para olhar, apertar a mão, abraçar. Agradecer.

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