Cenas
Certa vez eu caminhava pela calçada de uma capital brasileira quando fui abordado, em frente a uma Igreja, por um rapaz que me garantiu que cristão não ficava doente."Nem AIDS nem Câncer?", eu quis saber."Se você tem fé, nem AIDS, nem câncer".
Pensei em prosseguir com a conversa, mas logo desisiti. Ele era um rapaz simples, com uma fala decorada, não alguém que realmente entendia. Segui caminho pensando também se não deveria cancelar meu plano de saúde. Afinal, fé não me faltava, mesmo que pequena.
Mas o fato é que este é o sonho do ser humano. Como um final de filme, ser feliz para sempre. Com a diferença de que muitos não querem mais esperar o final, tem que ser agora mesmo - pois este é o sinal de que o roteiro é bom e de que o diretor gosta de seu elenco. Aliás, se o diretor não dirigir a cena ao gosto de alguns atores, eles têm verdadeiros ataques de estrelismo. Correm para o trailer, garantindo só voltar a encenar quando forem atendidos em cada uma de suas exigências.
Enquanto isso, segue a vida real. Às vezes com intervalos comerciais, mas sempre com uma trama muita mais complexa do que gritos, arroubos, emoções e promessas. No set de gravação, ironicamente, o que menos conta é ser ator. Vale muito mais uma fé sincera, um sorriso verdadeiro e uma lágrima com origem definida. Um dia o The end vai aparecer, e então a gente confere os verdadeiros créditos. Enquanto isso, seguimos tratando as feridas, uma por uma. A fé no Filho é curativa.
E, se AIDS e câncer ainda podem ter cura, a ignorância também. Mesmo que alguns não queiram o remédio.
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