Dor e ser

Acontece para muitas pessoas, em algum momento da vida, de desejarem morrer. Desde aquela frase em tom de brincadeira, "eu queria morrer naquela hora", diante de uma situação vergonhosa, até a pessoa que enfrenta uma situação limite de angústia, depressão, desistência.

Nestes casos mais graves, sempre pensei da maneira mais cartesiana, "quem atenta contra a vida é porque quer acabar com ela". Mas o Dr. Augusto Cury fez minha lógica enxergar diferente, ontem. Lendo seu livro "Pais brilhantes, professores fascinantes", lá pelas tantas ele me colocou diante de outro jeito de ver o problema. Quando alguém deseja morrer, ou tenta mesmo tirar a vida, na verdade não está querendo acabar com a vida. Está querendo acabar com a dor.

Esta pessoa quer é viver, e quer muito. Mas precisa desesperadamente terminar com a dor que a consome. Ou com desânimo completo, a falta de vontade pra tudo - também o vazio do ser causa dor e encaminha o ser humano a buscar a alternativa do não-ser.

A pergunta de Shakeaspere, em Hamlet, 'ser ou não-ser? Eis a questão', poderia, portanto, ser traduzida também como "dor ou não dor". Eis a questão. Se aquela pessoa puder encontrar outra maneira de aliviar, suprimir, ou ao menos começar a vencer o que a consome, dá pra arriscar um 100% de chance de mudança, abandono da idéia do não-ser e investimento total no voltar a ser completa.

E olha só como Deus faz as coisas. Pouco tempo depois de ler este trecho, tive diante de mim uma pessoa que justamente já tentou isso. Mas já está melhor. Pude, então, compartilhar com ela a idéia de como em Nele temos uma alternativa para acabar com a dor e que nos traz novamente a alegria do ser, amar, aprender. Viver. E ela concordou.

Como não podemos esperar do nosso mundo outra ênfase a não ser cada vez mais em ter, também podemos esperar cada vez mais dor, angústia, e vazio. Por isso, esperar em Deus, ser filho pela fé, é a alternativa a este conceito, já que Ele troca a dor pelo alívio, a angústia pela paz, o vazio pela esperança. Troca o ter pelo ser.

Com Ele, não há dor permanente, nem felicidade inatingível. Somos amados, guiados, transformados. Uma força pra calçar sem medida e correr num imenso viver. O ser ganha sua plenitude. A dor recebe outro tratamento. E a vida tem sua beleza amplificada, pois tem a presença do Pai sempre. Até o dia do não-ser.

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